Tenho observado que a maior parte do tempo vivemos psiquicamente numa região intermediária. Em uma espécie de penumbra perceptiva onde vemos, porém, paradoxalmente não vemos. Experenciamos os fatos da vida cotidiana como um breve relâmpago. É tão rápido que o acesso à informação desaparece instantaneamente. “Eu Vi” o copo muito próximo à borda da mesa mas ele se tornou uma “realidade” perceptível somente quando caiu e quebrou. “Eu Vi” que uma tempestade estava prestes a se formar, porém, ela só se tornou fato para mim quando constatei aposentos empoeirados e molhados. “Eu Vi” a criança canina, a criança gatina e a criança humana com mal estar, contudo, só percebi a gravidade quando adoeceram gravemente ou irremediavelmente. “Eu Vi” o relacionamento afetivo se desvitalizando e um véu de obscurecimento recaindo sobre a minha percepção. “Eu Vi” as dores da Natureza, fruto de minha ação desconstrutiva, junto com as de muitos outros seres, a levando ao exaurimento. “Eu Vi” o meu silêncio ser uma atitude de conivência com tudo aquilo que fere a minha alma. “Eu Vi” a necessidade de redimensionar as minhas crenças, as minhas verdades e as atitudes decorrentes delas mas, rapidamente, adormeci. “Eu Vi” as possibilidades de agir completamente diferente de tudo isto, entretanto, isto foi apenas um lampejo. “Eu Vi”… Mas Nada Fiz. Fico a me perguntar: O que se passa comigo? Será letargia? Será adormecimento? Será que vejo os acontecimentos da vida como se fossem quadros congelados, desprovidos de movimento? Será que não consigo perceber que, absolutamente, todas as coisas são vivas e que, por serem vivas, se movem o tempo todo independentemente de minha vontade? Curiosamente, tudo indica que o meu campo perceptivo, no grau de consciência que tenho, desconhece os desdobramentos de tudo o que faz parte de minha existência. Algo dentro de mim, me faz pressentir que há um Mandato silencioso, porém, poderoso governando o meu mundo psíquico: Silencie a sua própria percepção para que não se saiba co-autor na maior parte dos eventos que lhe acontece.