Ao estendermos um olhar para trás veremos, nas diferentes narrativas de criação do mundo e do homem, que os seres viventes herdaram do Cosmos um espaço para existir, para viver (com tudo que implica este viver). Herdaram lucidez para  operar sobre este mundo e dele extrair condições favoráveis à existência. Herdaram o fluxo da vida para dela se tornarem guardiões.

Porém, ao olharmos para o presente constatamos que cada povo, cultura e indivíduo concebeu de forma muito própria a herança concedida. Cada qual invocou o ritmo de sua particularidade e de suas necessidades mais profundas. E, por assim ser, a totalidade foi fracionada e se manifestou de maneira singular no espírito de cada homem.

Por esta razão: Em alguns de nós lateja fortemente o desejo e a necessidade de ter poder para se impor, para subjugar, para dominar.

Em outros pulsa o ímpeto, a necessidade premente de amar, acolher, amparar, proteger.

Em poucos se agita a força criativa que conduz para os grandes mistérios da vida e do cosmos, tomando para si o entendimento daqueles que buscam cosmovisões que develam o incognoscível.

Em amantes dos segredos da vida a alma sussurra docemente, pedindo passagem, tocando a consciência e convidando para dialogar sobre as profundezas do ser.

Em raros o Espírito que cria e transforma sem cessar, o que jaz potencial e tudo aquilo que já é, se torna presente e os toma por guardiões da vida.

Em alguns o sono letárgico que anestesia o sentir cai como um negro e denso manto.

Em muitos a fúria contida, ancestral, que clama por rompantes de crueldade, encontra guarida e os toma para si e os institui senhores do aniquilamento da vida.

Em todos a arrogância, a vaidade, a cobiça, o medo, as visões fixas e limitadas faz presença e constrói sutis véus de ignorância.

E os seres, desconhecendo a percepção parcial que têm acerca do mundo, invocam para si a totalidade do conhecimento.

Contudo, por sermos herdeiros legítimos da totalidade, a nossa alma clama por integração.

Atenderemos este clamor?